domingo, 8 de março de 2020

APRUEBO

19/01

"Na noite anterior, não sei se foi o vinho que tomei quando cheguei em casa, que sossegou minha alma, ou se foi o cansaço do dia anterior: vôo/protesto/caminhada/gás e tudo o mais, me dei conta que já era domingo e a minhas últimas refeições fora degustando aquele brownie nas Cordilheira e o 'Geladinho da Cruz Roja'. Mas é claro, saí de casa correndo sem comer porque tinha uma agenda de lançamento da Campanha por uma Nova Constituinte, coloquei minha roupa mais confortável, aquele chinelo de dedo maroto, afinal sou brasileira, e fui encontrar Guilhermo, que se tornou meu melhor amigo em terra chilena, no metrô para então seguirmos para o local da agenda. Tudo ok, so que não! Minha operadora telefônica para de dar sinal, fiquei sem telefone e fui caminhando em direção ao local do evento, quando dou de cara justamente com a tão almejada 'Plaza de La Dignidad', vulgo 'Placa' como ouvi e me referi nos próximos dias. Estavam reunindo um protesto pacífico de ciclistas, muitos, dezenas, centenas deles que rumam aos domingos à casa do presidente e retornam ao final do dia, olhei aquela cena deslumbrada, quando finalmente consegui encontrar meu amigo, claro, retornando ao metrô, pedindo ajuda para uma senhora que me emprestou seu telefone tão gentilmente, uma das coisas que o povo chileno tem de sobra: empatia. Enfim, quando o encontrei eu já carregava comigo a sensação de alma lavada e satisfação por ter valido a pena optar por passar dias das minhas férias escolares lutando por Dignidade e Direitos Humanos, isso que eu tento fazer a cada dia, ensinando meus pupilos, só assim o mundo será de fato menos cruel com os que mais precisam.
Andar por aquela avenida me deu uma sensação absurdamente maravilhosa, ao mesmo tempo que eu vislumbrava a Cordilheira, enxergava as pixações, aquele montante de bicicletas, aquele povo, aquela gente, que aqui no meu país com certeza estaria se preocupando apenas com sua saúde nas pedaladas, que lá tinha o intuito de fazer um roteiro para pedir para o presidente ter a decência de renunciar... 'RENUNCIA PIÑERA!' e voltam para seus lares com o orgulho de lutar por seu país, já amplamente dominado pelo Neoliberalismo cujo não merece sofrer mais tantas violações dos Direitos Humanos. Quem me dera viver para ver meu país, gigante e amado, acordar dessa maneira. Talvez eu seja uma utópica convicta, mas o que seria do mundo se os sonhos envelhecessem? 
O sentimentalismo piegas se tornou meio vago quando me vi ali, uma única brasileira, em meio à congressistas, imprensa internacional, lideranças políticas, indígenas, pessoas comuns e de luta, por algum momento eu me tornei a deputada que quisera eu ter sido eleita em 2018. Fui acolhida por aquela militância de uma forma tão singela e carinhosa que me senti mais à vontade que em muitos eventos do meu próprio partido.
Foi lindo ver a garra do povo indígena Mapuche sendo representado, toda a esquerda unida por uma luta incansável que é reformar a Constituição, elemento de total importância para qualquer país, ainda mais em um período político delicado, preocupante e de revolta populacional.
Lá estava eu, a professora vivendo suas horas de deputada autoproclamada e quer saber? Gostei demais! Pois seu que posso contribuir, e muito, para meu país que tanto amo e representar esse estado que não me viu nascer, mas sim crescer e me formou professora, motivos pelos quais resolvi chamar de meu."
***

"Talvez em toda minha vida eu não tenha conhecido, sentado, feito piquenique, deitado, dormido, conversado em tantas praças até chegar em Santiago.
O hábito da 'sesta' faz com que as pessoas descansem nas praças, o calor da cidade é insuportável, mas a umidade e o conforto que as copas das árvores e as gramas proporcionam, faz com que tais espaços sejam frequentados por todos, qualidade de vida é tudo!
E lá estava eu, no domingo a tarde, ainda deslumbrada com a paisagem, sentada na grama da praça, com jovens chilenos conversando política e cultura, alguns companheiros junto, me senti dentro da série 'Merlí', pois é, foi a maneira mais sublime que encontrei para descrever essa minha primeira sensação de como é frequentar as praças de Santiago.
Lá se fala filosofia, política, humanismo e liberdade e não, não se pode consumir álcool em lugar público, logo não tem homem bêbado dando em cima de nós mulheres e o ambiente é menos banal, há cultura e não apernas conversas promíscuas batidas e tantas outras bobagens que ouço nas 'bandas de cá' nos dias de hoje.

***

"Após a praça caminhei tudo que tinha direito... Letreiros de Santiago, voltei ao local dos protestos, conheci patrimônio histórico que não é mole e comi, enfim! Óbvio que não me adaptei com a comida e isso me fez aderir ao jejum durante a viagem... Nos últimos dias eu já conseguia ficar cerca de 30 horas sem comer, essa foi sem dúvida a minha maior dificuldade em toda a estadia no país, assim como em 2018 na campanha, em 2019 no Espírito Santo, cada vez mais minha dieta se restringe ao meu lar e isso anda dificultando demais minhas andanças. Carregar consigo dificuldades de adaptação alimentar e uma possível bulimia nunca foi fácil e agora está chegando ao nível insportável conviver com eu mesma...
Blá Blá Blá à parte. É domingo, dia de voltar pra casa antes de anoitecer e descansar, agora que voltei acho que deveria ter descansado menos, mas já é tarde para pensar assim."

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"Esse foi o primeiro dia que me perdi no caminho de volta pra casa, mal sabia eu que seria super nor
mal nos próximos dias. Odeio GPS, amo o UBER que me salvava quando eu me perdia em uma rota de 8 km de distância... Até me perder foi lindo, conheci e vivi a cidade. Coisa que nunca imaginava acontecer quando muito jovem estudava o turismo e suas sensações. A outra Tônia, tão jovem, que até parecia outra vida, que hoje vive exatamente o que sempre sonhou: sua liberdade!"




Por tantas e outras que finalizo com o meu som motivador:


A Casa Colonial

Ainda em 18/01

"Saí da casa da querida Sofía, sabedoria invejável até por seu nome... O motorista do Uber falava inglês: amém!
Resolvi me hospedar em Providência, na rua de tal nome de General, que era o lugar mais próximo ao metrô, partidos políticos e, claro, da 'Plaza de La Dignidad' que era onde eu tanto queria chegar.
Não sei se são orixás, oxuns, paranauês ou luz divina mesmo... Mas uma brasileira abriu a porta quando cheguei, saí do carro e na troca de olhares eu logo disse: BRASIL! E ela confirmou, pronto, cheguei em casa! Foi o que pensei naquele momento. Assim se deu inicio ao meu lar em Santiago, o lugar para voltar e me sentir em casa e que ao longo dos meus relatos será lembrado como 'casa', 'casa da Polly', 'lar' e tantos outros tipos de sentimentos que carrego dessa casa mágica, sem magias... Apenas paz, carinho e bom vinho!"


Finalizo com a música que me trazia conforto sempre que eu sentava naquela varanda acolhedora e de vistas para a Cordilheira... Ora pra descansar e confraternizar, ora para tomar decisões e afiar o discurso...


sábado, 7 de março de 2020

Aquí y Ahora

No mês de janeiro embarquei para meu intercâmbio político em Santigo de Chile...
Ainda presa em devaneios, sigo tentando construir meu diário de bordo destes momentos singulares e inesquecíveis...

18/01/2020

"Embarquei para Santigo logo pelo horário do almoço, mal sabendo tudo de maravilhoso que me aguardava pela frente. Horas depois, degustando um bom vinho chileno e um brownie, me deparei com a Cordilheira dos Andes, vista por cima. Meu Deus, que emoção! Umas das imagens mais lindas que tive a sorte de contemplar em vida.
Desembarcar em Santiago é meio louco, aeroporto imenso, eu sem domínio algum do espanhol, me virei e percebi que a única solução era gastar meu inglês para conseguir encontrar os companheiros que me aguardavam no centro. Lá vou eu na fila do ônibus, fiz a plena, cara de quem sabia o que estava fazendo e me enfiei no primeiro sentido metrô; conheci no trajeto uma estudante da Unicamp, mal sabia eu que seria uma das poucas brasileiras que eu encontraria dali em diante. Muito me intrigou que no meio da conversa ela me perguntou o que era democracia... Fiquei chocada e com todo carinho do mundo expliquei tudo que podia acerca do que democracia, feminismo, direitos humanos e liberdade significavam pra mim.
Descemos na estação 'Los Heroes', que logo depois que seria a estação que me salvaria a vida muitas vezes ao longo dessa aventura andina. Ao chegar encontrei Guilhermo, grande companheiro que me recebeu e acompanhou tão bem durante toda minha jornada. Quanto a garota? Ensinamos como ela faria para chegar ao hostel dela e meu amigo presenteou a menina com um cartão de metrô, acho que assim ela compreendeu um pouco como é a vida ´para nós socialistas..."

                                                             ***

"Segui com Guilhermo por Santiago até o apartamento de um camarada e sua família, composta pelo casal e a linda Sofía, que acolheram minha mala e na sequência fui ver de perto os protestos, que naquele dia completavam três meses de revolta social contra um governo que detêm apenas 6% de aprovação popular, ou seja, apenas os mais ricos o mantêm no poder, desconsiderando e oprimindo a maioria da população que clama por sua renúncia e resgate da dignidade.
No caminho enxerguei uma Santiago elitizada, central, mas em grande parte pichada e me deparei pela primeira vez com palavras de ordem escritas em muros em língua espanhola, me apaixonei, obviamente.
Aos poucos enxerguei também a situação dos estrangeiros de países como Venezuela, Peru e Colômbia, logo quando nossa caminhada avançou do bairro mais rico para a região dos embates. É absurda a capacidade de sobrevivência desse povo. É o sangue latino, que assim como nós brasileiros, se viram vendendo comida na rua, muamba e, infelizmente, até o corpo, conforme descobri posteriormente. Sexo sendo moeda de troca, desde os primórdios, infortunamente, nós humanos possuímos essa característica grotesca pré-estabelecida, ouso dizer que implícita em nosso DNA."

***

"Que felicidade sentar em uma praça histórica de frente à tantos prédios históricos e imersos em tanta cultura, fiquei embasbacada, por pouco tempo, logo ouço gritos: 'pacos assassinos' e vejo pessoas atirando tijolos nos carros da polícia, denominada 'carabineiros' no país. Naquele momento a vontade foi chegar mais perto e assim fui caminhando até o confronto, de maneira instintiva, sem pensar, apenas fui.
Gritos, fogo, barulho de pedra batendo em metal, gás lacrimogêneo, jatos de água, um garoto anarquista que nunca mais verei pediu ajuda com a blusa, pois tinha acabado de levar um tiro bala de borracha, bala essa que mais tarde descobri, tem o intuito de atingir os olhos dos manifestantes.
Lá estava eu, segura atrás da banca de jornal fechada, sem saber em quanto tempo aquele local também seria atingido, fui agindo por impulso e com o apoio do Guilhermo, que foi meu contando em seu 'portunhol' toda história do local e nos guiando, pois eu apenas andava por sobrevivência e curiosidade, mais essa que aquela, obviamente, pois eu sabia que havia a opção recuar, só que não, sou teimosa. Aguardei três longos meses para chegar na 'Plaza de La Dignidad' e era lá que eu queria estar.
Entramos em ruas com os dizeres de 'Queremos Respirar em Paz', com faixas, inclusive, de um prédio à outro. De repente, pá: cafés, cultura, turistas, população, todos vivendo como se  na quadra de trás não estivesse havendo nada, absolutamente calmos.
Cigana que sou, parei para contemplar as artes à venda, a grande maioria relacionada às bandeiras do povo e à luta latinoamericana, claro que o barulho das pedras no furgões e do choque avançando era notável e continuou me impulsionando a deixar de lado o passeio consumista e enfim andar apenas mais uma praça para chegar ao monumento que eu tanto queria estar.
Brasileira, de esquerda, clichêzona com o celular na mão filmando tudo e adentrando à zona de confronto. Após muito tentar, consegui reconhecer o cavalo da antes ' Plaza Itália' e aquilo me estimulou a continuar seguindo, era meu sonho de meses se realizando, mas é claro que não seria tão fácil assim, após respirar o bendito gás ao ponto de me acostumar com ele, fui surpreendida por jatos de água vindo dos camburões que pareciam tanques, muitos me disseram que há soda na composição do jato jorrado nas pessoas.
Recuei, andei, recuei novamente, cheguei pertinho, mas meu corpo enfim pediu descanso e virando a esquina me deparei com a 'Cruz Roja', estação voluntária de atendimento aos feridos.
Foi ali que me dei conta do que eu estava vivendo. Quando uma moça me ofereceu um 'geladinho', eu peguei e tomei aquele líquido como se fosse a substância mais saborosa do planeta e que aos poucos foi me livrando dos efeitos do gás e me dando coragem pra decidir se eu voltaria ou não.
Coragem eu tive, mas deve ser a idade, tive receio, temi pela vida e resolvi retornar para a praça maravilhosa de frente a PUC, eu acredita que naquele momento era o mais seguro a se fazer.
Claro que não era! Paramos para nos estabilizar na praça e do nada os 'pacos' também chegaram àquele lugar e a tal água que machuca a pele foi jorrada em mim novamente. Relógio: 21h, é Santiago... Parece que deu por hoje!"

***

"Ao retornar ao bairro em que minhas malas descansavam plenas, pude observar hortas comunitárias nas calçadas, pessoas felizes caminhando, outro país em cerca de cinco quadras...
Foi aí que conheci, por meio de Sofía, a vista do vigésimo andar de um dos edifícios mais tradicionais de Santiago e lembro que enquanto eu tentava me comunicar com aquela garotinha de dez anos, que não falava a minha língua materna e menos ainda meu segundo idioma, contemplei a beleza daquele lugar tão complexo e me deparei com a frase que mais me marcou em toda a viagem pichada em um outdoor: 'Não era Paz, Era Silêncio!' e foi aí que pensei: até quando? Até quando meu país continuará em silêncio.
Após muito carinho daquela família querida, encontrei por meio de um aplicativo de celular o local que seria minha morada nos próximos dias, morada essa que merece um texto só pra ela..."


***



Ao som de Sentimental finalizo esse relato, ainda que tardio, sobre meu primeiro dia nessa aventura, dia este surreal e perfeito! 

Logo vem mais texto por aí...




 

quinta-feira, 5 de março de 2020

Em tempos de blogueira, que sejamos raiz! Cá estou novamente, blog querido.


Oi, pra ti...
Blog amado que me guiou durante um longo caminho da minha vida... Desde os vinte e poucos guardando minhas lamúrias... Cá estou novamente, oráculo inspirador, pois enfim meu bloqueio me libertou, embora eu não saiba quanto tempo perdure, pretendo não me privar mais deste prazer que os anos de luta, glória e, por fim, de um romance pra toda vida que se desmanchou no caminho, me impediram de transpor a alma em palavras, até pq essa estava ora feliz demais, ora cansada e muitas vezes apenas bloqueada demais para ser eu mesma!
Livre, leve e de coração cheio de emoções e aventuras, me atrevo voltar aqui em tempo de prometer que vem texto bom logo, logo...

2020 Já está abençoado, nada mais poderia estragá-lo!


Bom senso! No embalo desse som que me permiti retornar ao meu exórdio.
Boa Noite, real e tão extraordinário mundo!

quarta-feira, 30 de março de 2016

...

Se por um lado paira a insegurança frente aos surtos da oposição, nós de esquerda ainda temos que lidar com o pessimismo que ronda nossos companheiros. Estou vendo um número absurdo de pessoas que votaram no PT e sempre defenderam nosso partido caindo na tentação de ceder ao terrorismo midiático e romper com os princípios partidários.
Se antes o preocupante eram os coxinhas, agora, pós surtos PMDBista temos que conviver com o cenário de ratos abandonando o navio em grande número.
É preciso mais uma vez repensar o papel da militância e mais uma vez investir em formação dentro do partido e da base aliada, para que o cenário não piore mais a cada dia.

Velho Brasil, nova versão...

Estamos vivendo um período de caos político incentivado por uma mídia manipuladora, uma Igreja mais castradora que o esperado, uma população extremamente alienada e perdida que acredita que um juiz que adentrou ao hall da fama é a solução nacional e, o mais triste, um processo de golpe apoiado justamente pela ordem que deveria apoiar a justiça e não ser conivente com manobras. Mas enfim, enquanto isso, podemos ver um cenário de esquerda unificada na luta e o mais bonito de tudo: o povo defendendo a democracia, essa que foi tão duramente conquistada nesse país.
Eu quero sim um país melhor, o fim da corrupção e valorização do povo brasileiro, o que eu não quero é daqui uns anos olhar para o passado e saber que fui idiota ao ponto de achar que a Globo e o Jornal Nacional foram os paladinos da ética e da verdade.
Sejam mais, sejam críticos! Apóiem mídias alternativas e não caiam na tentação de achar que a fama de um juiz aqui do Paranaquistão seja mais influenciadora que o bom senso ideológico.
Um beijo de luz em mais um dia de luta de classes desse nosso tão conturbado e tão amado Brasil!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

DESABAFO



É lamentável ver uma maioria elitista vaiar uma presidenta que está engajada em exterminar a miséria e o vira-latismo em nosso país.
É lamentável ver uma elite, que deveria ser intelectualizada, pregando ódio em redes sociais pelo simples fato de não aceitarem a ascensão dos mais pobres.
É lamentável aceitar que vivemos em um país que hoje é a 8° economia do mundo e seu povo ainda vive usando o elevador de serviço achando ser inferior.
É lamentável ver que os que mais lucram com a economia e com a copa são os primeiros a incentivarem o ódio ao governo.
É lamentável viver em um país que seu povo não reconhece que uma criança deixando de passar fome e frequentando uma escola vale mais que qualquer balada ou Iphone.
Mesmo assim, amo meu país, amo o povo brasileiro e acredito sim que NOSSO país está cada vez melhor! Dilma de novo! Eu acredito. Eu confio. Vai fazer. Vai cuidar, vai amar cada brasileiro, embora nem todos deem o devido valor a isso!!!O que me consola é que estes são a minoria e a grande maioria do povo brasileiro está sim orgulhosa da nossa presidenta.