“Quem
sabe faz a hora, não espera acontecer.”.
(Geraldo
Vandré)
Colaboradores da ditadura militar, legistas modificaram laudos para
que os responsáveis pelas torturas escapassem ilesos, sem prestar conta de seus
crimes, assim como acidentes foram forjados e cenas de crimes totalmente
alteradas para “safar” os mandantes e responsáveis pelos crimes durante o
período mais sangrento e injusto da nossa história política. Mas a história não
esquece.
Nesse cenário de total mudança de
fatos para o bem de poucos, encontra-se o assassinato do inimigo número 1 da
Ditadura Militar. Seu nome? Carlos Marighella, um mito, um herói da luta contra
as injustiças em um Brasil onde o caos tomava conta da nossa pátria amada.
Quando se fala em luta política,
seu nome é um dos primeiros a se lembrar, pois sua luta e sua contribuição para
com o movimento contra o Regime Militar foram louváveis.
Foi no dia 4 de novembro de 1969
que em uma emboscada morre o grande líder – Assim que começou a atravessar a
rua em direção a um Volkswagen, tiros vieram de todos os lados. O primeiro
perfurou-lhe as nádegas, entrando pelo lado direito e saindo pelo lado
esquerdo. O segundo atingiu-o na região pélvica, a bala se alojou no arco
pubiano, o terceiro atingiu-lhe de raspão, no queixo. E como se tudo isso não
bastasse, um policial se aproximou e atirou a queima-roupa. Seu corpo foi
arrastado para dentro do carro, de maneira que parecesse que morrera ali, mas
testemunhas afirmam que Mariguella foi removido da cena do crime e inserido no
veículo, até porque as cenas comprovam que o forjamento foi feito de maneira
extremamente amadora, deixando vestígios de sua remoção após o assassinato.
Sua história não pode ser contada
em um curto espaço de tempo, pois ao fazer isso, estaria eu faltando com
respeito com sua luta política, além do mais, fatos não podem deixar de serem
citados. Por isso, inicio hoje, uma sequência sobre a história da vida política
desse grande personagem que se tornou um herói nacional para os que acreditam
que devemos sim lutar por nossos ideais.
“Vai, Carlos, ser Mariguella
na vida
Ai Brasil,
Quem escapa do desamor em tuas noites ferozes
Quem se salva da ciência dos teus doutos sábios doutores
Quem foge de teus senhores algozes
Nasce com alguma forma de homem
E se não morre dos sete dias
Nem do angu de farinha
Vai um dia pro batismo
Recebe por sorte um nome
Vai ser João ou Maria
Vai ser José ou das Dores
Vai ser de Deus Jesus ou dos Santos
Ou serão Carlos que nunca foram
E serão assim brasileiros como tantos
E serão sempre brasileiros
Que serão de algum terreiro
Bloco sujo carnavalesco
Lesco-lesco café ralo com torresmo
Ou de nada nada mesmo
Como nós assim a esmo
E quem capitão de areia num livro de Jorge Amado
Aprende a lição das coisas
E quem insone nas madrugadas é mulher de lobisomem
Ou aprende nas ciladas que o pior lobo dos homens
Talvez seja o próprio homem
Quem retirante escapa num quadro de Portinari
Quem poeta quer ter frátria de Veloso ou de Vinícius pátria amada
Quem gracilianamente deságua desta vida seca agrária
Ou na solidão urbana sonha a vida humana solidária
Quem na cartilha suburbana sonha a vida humana solidária
Quem na cartilha suburbana soletra o nome fulo
Quem nasce da negra índia ou branco
E sobe ligeiro ou manco as ladeiras do Pelô
Quem descasca uma banana
E se consome no sonho da grande mesa comum
Para a imensa toda fome
Quem assim vive não morre
Vai virando jacarandá ou poesia pau-brasil
Virando samba e cachaça
Se torna gol de Garrincha se torna me;l de cabaça
Se torna ponta de lança do esporte clube da raça
Se torna gente embora gente nem nascida
Mas (quem sabe?) pode ser
Um dia gauche na vida se torna nossa aquarela
Torna-se Carlos Mariguella
Um anjo doce na morte
Que os homens tortos quiseram
Sem que te matassem ainda.”.
(José Carlos Capinan, 1994)
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