sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Publicado na Gazeta Regional de Goioerê em 09/02/2013


“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”.
(Geraldo Vandré)
 
 
Colaboradores da ditadura militar, legistas modificaram laudos para que os responsáveis pelas torturas escapassem ilesos, sem prestar conta de seus crimes, assim como acidentes foram forjados e cenas de crimes totalmente alteradas para “safar” os mandantes e responsáveis pelos crimes durante o período mais sangrento e injusto da nossa história política. Mas a história não esquece.
Nesse cenário de total mudança de fatos para o bem de poucos, encontra-se o assassinato do inimigo número 1 da Ditadura Militar. Seu nome? Carlos Marighella, um mito, um herói da luta contra as injustiças em um Brasil onde o caos tomava conta da nossa pátria amada.
Quando se fala em luta política, seu nome é um dos primeiros a se lembrar, pois sua luta e sua contribuição para com o movimento contra o Regime Militar foram louváveis.
Foi no dia 4 de novembro de 1969 que em uma emboscada morre o grande líder – Assim que começou a atravessar a rua em direção a um Volkswagen, tiros vieram de todos os lados. O primeiro perfurou-lhe as nádegas, entrando pelo lado direito e saindo pelo lado esquerdo. O segundo atingiu-o na região pélvica, a bala se alojou no arco pubiano, o terceiro atingiu-lhe de raspão, no queixo. E como se tudo isso não bastasse, um policial se aproximou e atirou a queima-roupa. Seu corpo foi arrastado para dentro do carro, de maneira que parecesse que morrera ali, mas testemunhas afirmam que Mariguella foi removido da cena do crime e inserido no veículo, até porque as cenas comprovam que o forjamento foi feito de maneira extremamente amadora, deixando vestígios de sua remoção após o assassinato.
Sua história não pode ser contada em um curto espaço de tempo, pois ao fazer isso, estaria eu faltando com respeito com sua luta política, além do mais, fatos não podem deixar de serem citados. Por isso, inicio hoje, uma sequência sobre a história da vida política desse grande personagem que se tornou um herói nacional para os que acreditam que devemos sim lutar por nossos ideais.


 

 

Vai, Carlos, ser Mariguella na vida

 

Ai Brasil,

Quem escapa do desamor em tuas noites ferozes

Quem se salva da ciência dos teus doutos sábios doutores

Quem foge de teus senhores algozes

Nasce com alguma forma de homem

 

E se não morre dos sete dias

Nem do angu de farinha

Vai um dia pro batismo

Recebe por sorte um nome

 

Vai ser João ou Maria

Vai ser José ou das Dores

Vai ser de Deus Jesus ou dos Santos

Ou serão Carlos que nunca foram

E serão assim brasileiros como tantos

 

E serão sempre brasileiros

Que serão de algum terreiro

Bloco sujo carnavalesco

Lesco-lesco café ralo com torresmo

Ou de nada nada mesmo

Como nós assim a esmo

 

E quem capitão de areia num livro de Jorge Amado

Aprende a lição das coisas

E quem insone nas madrugadas é mulher de lobisomem

Ou aprende nas ciladas que o pior lobo dos homens

Talvez seja o próprio homem

Quem retirante escapa num quadro de Portinari

Quem poeta quer ter frátria de Veloso ou de Vinícius pátria amada

Quem gracilianamente deságua desta vida seca agrária

Ou na solidão urbana sonha a vida humana solidária

Quem na cartilha suburbana sonha a vida humana solidária

Quem na cartilha suburbana soletra o nome fulo

Quem nasce da negra índia ou branco

E sobe ligeiro ou manco as ladeiras do Pelô

Quem descasca uma banana

E se consome no sonho da grande mesa comum

Para a imensa toda fome

Quem assim vive não morre

Vai virando jacarandá ou poesia pau-brasil

Virando samba e cachaça

Se torna gol de Garrincha se torna me;l de cabaça

Se torna ponta de lança do esporte clube da raça

Se torna gente embora gente nem nascida

Mas (quem sabe?) pode ser

Um dia gauche na vida se torna nossa aquarela

Torna-se Carlos Mariguella

Um anjo doce na morte

Que os homens tortos quiseram

Sem que te matassem ainda.”.        

 

(José Carlos Capinan, 1994)

 

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Publicado na Gazeta Regional de Goioerê em 02/02/12


“Ao longo da história, as pessoas têm vivido na pobreza e na miséria, foram atormentadas, foram degradadas pela fome e a ignorância, e foram conduzidas às guerras. Entretanto, nem tudo ficou igual: a diferença é que temos adquirido maior conhecimento.”. (Olof Palme)

 

Mais que um revolucionário, a personalidade retratada hoje se tornou um mito quando se fala em liberdade e política não só na América Latina como no mundo.

Trata-se de Ernesto Guevara de La Serna, um jovem argentino, nascido em Rosário, filho de provincianos e com um espírito aventureiro notório. Forma-se em medicina em 1953 em Buenos Aires, capital de seu país e resolve percorrer a América Latina ajudando os mais necessitados com o auxílio dos conhecimentos adquiridos durante sua formação. Especialista em alergia, por ironia portador de asma, resolve ir fixar moradia na Venezuela e trabalhar na cidade de Granados, porém, no caminho encontra a Bolívia em plena fase de Revolução o que o faz passar um tempo no país para conhecê-lo, embora ainda não possuísse nenhum vínculo ideológico político, para então seguir viagem para seu destino inicial: Granados. Mais uma vez seu percurso é desviado, chegando então, na noite de natal de 1953 à Guatemala, trabalhou dando assistência médica aos indígenas e, por conseguinte fixa seu trabalho em um posto médico na capital.

A partir de então inicia sua jornada política, sendo expulso do país, buscando proteção na Embaixada argentina e por fim se deslocando para o México, país de grande valia para o revolucionário, pois é lá que conhece sua primeira esposa, Raúl Castro e por consequência dessa amizade, seu irmão Fidel Castro, outro mito revolucionário mundial.

 

A partir de sua amizade com Fidel, nosso líder aprende a usar a guerrilha como forma revolucionária, assim como aperfeiçoa seus ideais políticos.

Participou com grande mérito da Revolução Cubana e teve seu nome nos mais altos cargos na formação da política socialista no país. Foi ministro, sendo que nunca usou seu cargo para exaltar-se, pelo contrário, nunca deixou de participar dos trabalhos voluntários, desde as obras do governo ou de um simples cidadão até o trabalho no corte de cana.

Após esse longo período de reestruturação política em Cuba, da participação em conferências da ONU (Organização das Nações Unidas), Che, já no ano de 1965, desaparece da vida pública e renuncia todas as suas funções no governo e partido cubano para participar das guerrilhas para libertação dos países da América Latina, fixando seus objetivos na Bolívia, enfrentando então sua última batalha.

“Não há experiência mais profunda para o revolucionário de que o ato da guerra.”

Sua morte foi confirmada em 18 de outubro de 1967, gerando uma comoção mundial, saindo então, como diria Getúlio Vargas, da vida para entrar para história.

Che Guevara, o mito, nosso herói Latino Americano nos presenteou com um legado de lutas e ideologias que nenhum outro poderia nos deixar, sua força e seu enorme medo de morrer como um burocrata nos enfatiza a verdadeira necessidade de viver por uma causa. Faleceu como um guerrilheiro, de arma na mão lutando por seus objetivos, mais que um exemplo de força ideológica, um homem para ser lembrando sempre que se fala em LUTA! Verdadeiro revolucionário, aquele que abdicou do luxo que a profissão poderia ter lhe trazido em seu país para gritar por dignidade para as gerações de latinos que o sucederam.

 

“Muitos me chamarão de aventureiro e o sou, só que de um tipo diferente: dos que entregam a pele para provar suas verdades.”. (Che Guevara – da última carta ao país.).

Curiosidade: O apelido Che, que é o que todos usam para identificá-lo, surgiu da expressão dos pampas que o jovem tanto usava, unindo-se ao seu sobrenome Guevara, torna-se um dos nomes mais citados na história política mundial.